Prepare-se para tomar um soco no estômago. Não uma pancada qualquer, mas sim uma das mais fortes porradas cinematográficas dos últimos anos: estréia em todo o Brasil o pesadíssimo drama Réquiem para um Sonho, uma viagem – literalmente – alucinante pelo mundo das drogas. Não o mundo underground, escondido nos becos e bueiros, mas sim o mundo que poderia ser o de qualquer um. Seu, de seus amigos... e até de sua mãe.
A história mergulha no universo de quatro pessoas e seus sonhos: o jovem Harry (Jared Letho, de Psicopata Americano e Clube da Luta) persegue o ideal de riqueza e felicidade. Sua mãe, Sara (Ellen Burstyn, de O Exorcista), entra em estado de ansiedade quando é convidada a participar de um programa de televisão. Marion (Jennifer Connely, a ex-atriz mirim de Era uma Vez na América) quer abrir a própria grife de roupas.
E Tyrone (Marlon Wayans, em papel diametralmente oposto às besteiras que tem feito em Todo Mundo em Pânico) acredita que a droga pode patrocinar estes e outros sonhos. Enquanto a perspectiva do dinheiro fácil seduz os jovens, a ditadura do emagrecimento e da mídia tira Sara de seu frágil eixo emocional. O resultado se assemelha a um trem fantasma que mergulha para uma viagem de horror. Um caminho sem volta em que o vício impera e age como uma missa de réquiem para toda e qualquer perspectiva de vida.
Réquiem Para um Sonho é baseado no livro Last Exit to Brooklin, publicado em 1964 por Hubert Selby Jr., que já havia originado o filme Noites Violentas no Brooklyn, em 1969. Esta nova versão vem com a modernidade da direção do nova-iorquino Darren Aronosfky, cineasta que arrancou elogios da crítica internacional com o drama Pi (ainda inédito nos cinemas paulistanos), que já prepara uma nova versão de Batman para o próximo ano. Em ritmo de videoclipe, Aronosfky usa e abusa da montagem fragmentada, explora super closes, distorce as imagens com lentes em grande angular e cria um universo assustadoramente onírico para seus personagens.
Ellen Burstyn, indicada ao Oscar e ao Globo de Ouro pelo papel, teve de se submeter a torturantes sessões de maquiagem, que incluíam roupas especiais de até 20 quilos e próteses que chegaram a queimar sua pele. A atriz também vestia uma estrutura especial sobre a qual era montada a câmera de filmagem, tudo em nome dos ângulos inusitados buscados por Aronosfky.
Todas estas alucinações técnica, formal e de conteúdo fazem de Réquiem para um Sonho um perturbador, violento (e sem concessões) manifesto contra as drogas. Um filme que, apesar de ser recomendado para maiores de 18 anos, deveria ser visto pela camada jovem da população e até – polêmicas à parte – exibido em escolas.
Crítica: Celso Sabadin/Cineclick
BOA!
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