sábado, 28 de janeiro de 2012

Moacyr Scliar

Moacyr Jaime Scliar (Porto Alegre, 23 de março de 1937 — Porto Alegre, 27 de fevereiro de 2011) foi um escritor brasileiro. Formado em medicina, trabalhou como médico especialista em saúde pública e professor universitário. Sua prolífica obra consiste de contos, romances, ensaios e literatura infantojuvenil. Também ficou conhecido por suas crônicas nos principais jornais do país.

Biografia
Filho de José e Sara Scliar, Moacyr nasceu no Bom Fim, bairro que concentra a comunidade judaica. Alfabetizado pela mãe, professora primária, a partir de 1943 cursou a Escola de Educação e Cultura, daquela cidade, conhecida como Colégio Iídiche. Transferiu-se, em 1948, para o Colégio Nossa Senhora do Rosário (católico).

Em 1963, após se formar pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, iniciou sua vida como médico, fazendo residência médica. Especializou-se no campo da saúde pública como médico sanitarista. Iniciou os trabalhos nessa área em 1969. Em 1970, frequentou curso de pós-graduação em medicina em Israel. Posteriormente, tornou-se doutor em Ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública. Foi professor da disciplina de medicina e comunidade do curso de medicina da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).

Moacyr Scliar era torcedor do Cruzeiro, de Porto Alegre. Devido a sua morte, os jogadores do Cruzeiro fizeram uma homenagem para este torcedor-símbolo do clube, entrando de luto na partida contra o Grêmio, no dia 27 de fevereiro, que contou com um minuto de silêncio em homenagem a Scliar.

Carreira
Scliar publicou mais de setenta livros. Seu estilo leve e irônico lhe garantiu um público bastante amplo de leitores, e em 2003 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, tendo recebido antes uma grande quantidade de prêmios literários como o Jabuti (1988, 1993 e 2009), o Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) (1989) e o Casa de las Américas (1989).
Suas obras frequentemente abordam a imigração judaica no Brasil, mas também tratam de temas como o socialismo, a medicina (área de sua formação), a vida de classe média e vários outros assuntos. O autor já teve obras suas traduzidas para doze idiomas.

Em 2002 ele se envolveu em uma polêmica com o escritor canadense Yann Martel, cujo famoso romance A Vida de Pi, vencedor do prêmio Man Booker, foi acusado de ser um plágio da sua novela Max e os felinos. O escritor gaúcho, no entanto, diz que a mídia extrapolou ao tratar do caso, e que ele nunca teve o intuito de processar o escritor canadense.

Entre suas obras mais importantes estão os seus contos e os romances O ciclo das águas, A estranha nação de Rafael Mendes, O exército de um homem só e O centauro no jardim, este último incluído na lista dos 100 melhores livros de temática judaica dos últimos 200 anos, feita pelo National Yiddish Book Center nos Estados Unidos.

Adaptação para o cinema
Em 1998, o romance "Um Sonho no Caroço do Abacate" foi adaptado para o cinema, com o título "Caminho dos Sonhos", sob a direção de Lucas Amberg. O filme participou dos festivais de Gramado, Miami, Trieste e outros. O filme narra a história do filho de um casal de imigrantes judeus lituanos que se estabelece no bairro do Bom Retiro, em São Paulo, nos anos 1960. O jovem Mardo (Edward Boggiss) apaixona-se por Ana (Taís Araújo), uma estudante negra. Os jovens encontram no amor a força e a determinação para enfrentarem a discriminação na escola onde estudam e o preconceito entre as famílias.

Em 2002, o romance Sonhos Tropicais foi adaptado para o cinema sob a direção de André Sturm, com Carolina Kasting, Bruno Giordano, Flávio Galvão, Ingra Liberato e Cecil Thiré no elenco. O filme relata o combate à febre amarela no Rio de Janeiro, comandado pelo médico sanitarista Oswaldo Cruz, e a resistência da população à vacinação obrigatória, que resultou na chamada Revolta da Vacina. Em paralelo, é narrada a história de uma jovem judia polonesa, que imigra para o Brasil em busca de uma vida melhor, mas acaba por se prostituir.

Morte
Scliar morreu por volta da 1h do dia 27 de fevereiro de 2011, aos 73 anos, de falência múltipla dos órgãos. Ele estava internado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre desde o dia 11 de janeiro, quando deu entrada para a retirada de pólipos (formações benignas) no intestino. A cirurgia foi bem sucedida, mas o escritor acabou tendo um acidente vascular cerebral (AVC) no dia 17 de janeiro, durante o período de recuperação, falecendo quase cinquenta dias depois de sua entrada no hospital

Obra
Contos
O carnaval dos animais. Porto Alegre, Movimento, 1968
A balada do falso Messias. São Paulo, Ática, 1976
Histórias da terra trêmula. São Paulo, Escrita, 1976
O anão no televisor. Porto Alegre, Globo, 1979
Os melhores contos de Moacyr Scliar. São Paulo, Global, 1984
Dez contos escolhidos. Brasília, Horizonte, 1984
O olho enigmático. Rio, Guanabara, 1986
Contos reunidos. São Paulo, Companhia das Letras, 1995
O amante da Madonna. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1997
Os contistas. Rio, Ediouro, 1997
Histórias para (quase) todos os gostos. Porto Alegre, L&PM, 1998
Pai e filho, filho e pai. Porto Alegre, L&PM, 2002
Histórias que os jornais não contam. Rio de Janeiro, Agir, 2009.

Romances
A guerra no Bom Fim. Rio, Expressão e Cultura, 1972. Porto Alegre, L&PM
O exército de um homem só. Rio, Expressão e Cultura, 1973. Porto Alegre, L&PM
Os deuses de Raquel. Rio, Expressão e Cultura, 1975. Porto Alegre, L&PM
O ciclo das águas. Porto Alegre, Globo, 1975; Porto Alegre, L&PM, 1996
Mês de cães danados. Porto Alegre, L&PM, 1977
Doutor Miragem. Porto Alegre, L&PM, 1979
Os voluntários. Porto Alegre, L&PM, 1979
O Centauro no Jardim. Rio, Nova Fronteira, 1980. Porto Alegre, L&PM (Tradução francesa:"Le centaure dans le jardin" ),Presses de la Renaissance, Paris
Max e os felinos. Porto Alegre, L&PM, 1981
A estranha nação de Rafael Mendes. Porto Alegre, L&PM, 1983
Cenas da vida minúscula. Porto Alegre, L&PM, 1991
Sonhos tropicais. São Paulo, Companhia das Letras, 1992
A majestade do Xingu. São Paulo, Companhia das Letras, 1997
A mulher que escreveu a Bíblia. São Paulo, Companhia das Letras, 1999
Os leopardos de Kafka. São Paulo, Companhia das Letras, 2000
Uma história farroupilha. Porto Alegre, L&PM, 2004
Na noite do ventre, o diamante. Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2005
Ciumento de carteirinha Editora Ática, 2006
Os vendilhões do templo Companhia das Letras, 2006
Manual da paixão solitária. São Paulo: Companhia das Letras
Eu vos abraço, milhões. São Paulo: Companhia das Letras

Ficção infantojuvenil
Cavalos e obeliscos. Porto Alegre, Mercado Aberto, 1981; São Paulo, Ática, 2001
A festa no castelo. Porto Alegre, L&PM, 1982
Memórias de um aprendiz de escritor. São Paulo, Cia. Editora Nacional, 1984*
No caminho dos sonhos. São Paulo, FTD, 1988
O tio que flutuava. São Paulo, Ática, 1988
Os cavalos da República. São Paulo, FTD, 1989
Pra você eu conto. São Paulo, Atual, 1991
Uma história só pra mim. São Paulo, Atual, 1994
Um sonho no caroço do abacate. São Paulo, Global, 1995
O Rio Grande farroupilha. São Paulo, Ática, 1995
Câmera na mão, o guarani no coração. São Paulo, Ática, 1998
A colina dos suspiros. São Paulo, Moderna, 1999
O livro da medicina. São Paulo, Companhia das Letrinhas, 2000
O mistério da casa verde. São Paulo, Ática, 2000
O ataque do comando P.Q. São Paulo, Ática, 2001
O sertão vai virar mar. São Paulo, Ática, 2002
Aquele estranho colega, o meu pai. São Paulo, Atual, 2002
Éden-Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 2002
O irmão que veio de longe. Idem, idem
Nem uma coisa, nem outra. Rio, Rocco, 2003
Aprendendo a amar - e a curar. São Paulo, Scipione, 2003
Navio das cores. São Paulo, Berlendis & Vertecchia, 2003
Livro de Todos - O Mistério do Texto Roubado. São Paulo, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2008. Obra coletiva (Moacyr Scliar e vários autores), ISBN 9788570606129

Crônicas
A massagista japonesa. Porto Alegre, L&PM, 1984
Um país chamado infância. Porto Alegre, Sulina, 1989
Dicionário do viajante insólito. Porto Alegre, L&PM, 1995
Minha mãe não dorme enquanto eu não chegar. Porto Alegre, L&PM, 1996. Artes e Ofícios, 2001
O imaginário cotidiano. São Paulo, Global, 2001
A língua de três pontas: crônicas e citações sobre a arte de falar mal. Porto Alegre

Ensaios
A condição judaica. Porto Alegre, L&PM, 1987
Do mágico ao social: a trajetória da saúde pública. Porto Alegre, L&PM, 1987; SP, Senac, 2002
Cenas médicas. Porto Alegre, Editora da Ufrgs, 1988. Artes&Ofícios, 2002
Enígmas da culpa. São Paulo, Objetiva, 2007

Citações
"Acredito, sim, em inspiração, não como uma coisa que vem de fora, que "baixa" no escritor, mas simplesmente como o resultado de uma peculiar introspecção que permite ao escritor acessar histórias que já se encontram em embrião no seu próprio inconsciente e que costumam aparecer sob outras formas — o sonho, por exemplo. Mas só inspiração não é suficiente".

Você esta certo meu amigo. Não só as férias são curtas a vida também.

Que pessoas de idade aprendam a usar o computador, que façam esporte, que cuidem da aparência, que aprendam a andar de moto, tudo bem. Mas que renunciem à sua própria vida, à sua identidade, essa não.

A gente pensa que padrões de beleza dependem exclusivamente de gostos pessoais, de idiossincrasias. É verdade, mas só em parte. Quando achamos uma mulher bela, não estamos apenas aplicando padrões estéticos pessoais.

Você sempre viveu no ar. Agora está na hora de colocar os pés no chão.

O problema, concluiu antes de expirar, é que a gente não pode ter tudo o que se quer na vida.

Sorria pode ser, portanto, um bom conselho, na medida em que o sorriso, atributo caracteristicamente humano, possa ser um indicador do sentimento de felicidade.

Vivemos novos tempos e temos de nos adaptar a eles. O importante é que as pessoas continuam se querendo. A tecnologia e os hábitos mudam. O amor, mesmo à distância, continua igual.

Nenhum comentário:

Postar um comentário