quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Mario Vargas Llosa


Jorge Mario Vargas Llosa (Arequipa, 28 de março de 1936) é um escritor, jornalista, ensaista e político peruano, laureado com o Nobel de Literatura de 2010.

Biografia
Nascido em uma família de classe média, único filho de Ernesto Vargas Maldonado e Dora Llosa Ureta, seus pais separaram-se após cinco meses de casamento. Com isto o menino não conheceu o pai até os dez anos de idade. Sua primeira infância foi em Cochabamba, na Bolívia, mas no período do governo José Luis Bustamante y Rivero, seu avô obtém um importante cargo político no governo, em Piura, no norte do Peru, e sua mãe retorna ao Peru, para viver naquela cidade.

Em 1946 muda-se para Lima e então conhece seu pai. Os pais reconciliam-se e, durante sua adolescência, a família continuará vivendo ali.

Ao completar 14 anos, ingressa, por vontade paterna, no Colégio Militar Leôncio Prado, em La Perla, como aluno interno, ali permanecendo por dois anos. Essa experiência será o tema do seu primeiro livro - La ciudad y los perros ("A cidade e os cachorros", em tradução livre), publicado no Brasil como "Batismo de Fogo" e, posteriormente, como A cidade e os cachorros.
Em 1953 é admitido na tradicional Universidad Nacional Mayor de San Marcos, em Lima, a mais antiga da América. Ali estudou Letras e Direito, contra a vontade de seu pai.

Aos 19 anos, casa-se com Julia Urquidi, irmã da mulher de seu tio materno, e passa a ter vários empregos para sobreviver: atua como redator mas também fichando livros e até mesmo revisando nomes em túmulos nos cemitérios. Em 1958 recebe uma bolsa de estudos "Javier Prado" a vai para a Espanha, onde obtém doutorado em Filosofia e Letras, em 19, na Universidade Complutense de Madri. Após isso vai para a França, onde vive durante alguns anos. Em 1964 divorcia-se de Júlia e em 1965 casa-se com a prima Patrícia Llosa, com quem tem três filhos Álvaro, Gonzalo e Morgana.

Obra
Sua obra critica a hierarquia de castas sociais e raciais, vigente ainda hoje, segundo o escritor, no Peru e na América Latina. Seu principal tema é a luta pela liberdade individual na realidade opressiva do Peru. A princípio, assim como vários outros intelectuais de sua geração, Vargas Llosa sofreu a influência do existencialismo de Jean Paul Sartre.

Muitos dos seus escritos são autobiográficos, como "A cidade e os cachorros" (1963), "A Casa Verde" (1966) e "Tia Júlia e o Escrevinhador"(1977). Por A cidade e os cachorros recebeu o Prêmio Biblioteca Breve da Editora Seix Barral e o Prêmio da Crítica de 1963. Sua obra seguinte, A Casa Verde mostra a influência de William Faulkner. O romance narra a vida das personagens em um bordel, cujo nome dá título ao livro. Seu terceiro romance, Conversa na Catedral publicado em quatro volumes e que o próprio Vargas Llosa caracterizou como obra completa, narra fases da sociedade peruana sob a ditadura de Odria em 1950.

Há um encontro, num botequim chamado "La Catedral", entre dois personagens: o filho de um ministro e um motorista particular. O romance caracteriza-se por uma sofisticada técnica narrativa, alternando a conversa dos dois e cenas do passado. Em 1981 publica A Guerra do Fim do Mundo, sobre a Guerra de Canudos, que dedica ao escritor brasileiro Euclides da Cunha, autor de Os Sertões.

No ano de 2006 Llosa publicou o livro “Cartas a um jovem escritor”, a obra não literária é uma espécie de guia para jovens escritores, mas não se trata de um livro sobre as técnicas desse ofício, mas sim as técnicas do romance. Em uma série de capítulos escritos como se fossem cartas a um jovem ávido por conhecimento da profissão, Llosa discorre sobre o que é imprescindível a criação de um livro. O autor começa afirmando que todas as histórias se alimentam da vida de seu criador, como um “Catoblepas”, que devora a si mesmo, criatura que aparece no livro de Flaubert. Llosa menciona outras obras durante todo o livro. Aborda também o estilo, que deve ser coerente com a história contada, e fazer o leitor viver a obra sem notar que está lendo.

O livro aborda a relação entre narrador e espaço, afirmando que o narrador é o personagem mais importante de todos os romances, pois dele dependem os demais, e, no entanto, ele não deve ser confundido com o autor, já que o primeiro é um personagem fictício. O narrador pode ser um personagem, ser externo a trama, ou ambíguo, o qual não sabemos se está dentro ou fora do mundo narrado. Além disso, várias obras possuem mais de um narrador. O ponto de vista espacial é a relação entre o espaço ocupado pelo narrador e o espaço narrado. Na narração de um personagem esses dois coincidem. Quando o narrador é externo a trama, o mesmo não acontece. Já o narrador ambíguo pode assumir qualquer um desses papéis.

Quanto ao tempo, Llosa afirma que aquele do romance não é igual ao da realidade, mas sim outra forma que o autor pode usar para se desvencilhar da mesma. Quanto ao tempo existe uma distinção simples: o cronológico e o psicológico. O primeiro existe independentemente da subjetividade humana, o segundo se transforma em função de nossas emoções. Outro capitulo trata dos níveis de realidade, a relação entre o plano de realidade em que se situa o narrador e aquele em que se desenrola a história narrada. Nesse caso, também, os planos podem coincidir ou não. Os planos mais claramente autônomos são o “mundo real” e o “mundo fantástico”.

Além das guinadas, alterações em qualquer ponto de vista, espacial, temporal, ou de nível de realidade. E, por fim, Llosa fala sobre a Caixa Chinesa, narrativas que como esses objetos guardam similares (outras histórias) dentro de si. Ele conclui encorajando o leitor, afirmando que esforço, disciplina e leituras sistemáticas podem leva-lo a desenvolver seu próprio estilo.

Em 7 de outubro de 2010 foi agraciado com o Prêmio Nobel da Literatura pela Academia Sueca de Ciências "por sua cartografia de estruturas de poder e suas imagens vigorosas sobre a resistência, revolta e derrota individual".

O presidente do Peru, Alan García, considerou o prêmio a Llosa como "um reconhecimento a um peruano universal"

Bibliografia
Ficção
Os Chefes (1959)
A cidade e os cachorros (Brasil) // A Cidade e os Cães (Portugal) ("La ciudad y los perros") (1963)
A Casa Verde (1966) (Premio Rómulo Gallegos)
Os Filhotes (1967)
Conversa na catedral (Brasil) // Conversa n'A Catedral (Portugal) (1969)
Pantaleão e as visitadoras (1973)
Tia Júlia e o escrevinhador (Brasil) // A Tia Júlia e o Escrevedor (Portugal) (1977)
A Guerra do Fim do Mundo (1981)
Historia de Mayta (1984)
Quem matou Palomino Molero? (1986)
O falador (1987)
Elogio da madrasta (1988)
Lituma nos Andes (1993). Premio Planeta
Os cadernos de Dom Rigoberto (1997)
A festa do bode (Brasil) // A Festa do Chibo (Portugal) (2000)
O Paraíso na Outra Esquina (2003)
Travessuras da Menina Má (2006)
O Sonho do Celta (2010)

Teatro
A menina de Tacna (1981)
Kathie e o hipopótamo (1983)
La Chunga (1986)
El loco de los balcones (1993)
Olhos bonitos, quadros feios(1996)

Ensaio
García Márquez: historia de un deicidio (1971)
Historia secreta de una novela (1971)
La orgía perpetua: Flaubert y «Madame Bovary» (1975)
Contra viento y marea. Volume I (1962-1982) (1983)
Contra viento y marea. Volume II (1972-1983) (1986)
La verdad de las mentiras: Ensayos sobre la novela moderna (1990)
Contra viento y marea. Volumen III (1964-1988) (1990)
Carta de batalla por Tirant lo Blanc (1991)
Desafíos a la libertad (1994)
La utopía arcaica. José María Arguedas y las ficciones del indigenismo (1996)
Cartas a un novelista (1997)
El lenguaje de la pasión (2001)
La tentación de lo imposible (2004)
Sabres e Utopias (2009)

Citações
O esquartejamento da humanidade em blocos rigidamente diferenciados - como em ser negro, muçulmano, cristão, branco, budista, judeu etc - é perigoso porque estimula o fanatismo dos que se consideram superiores.

Um público comprometido com a leitura é crítico, rebelde, inquieto, pouco manipulável e não crê em lemas que alguns fazem passar por ideias.

"Devemos buscar a perfeição na criação, na vocação, no amor, no prazer. Mas tudo isso no campo individual. No coletivo, não devemos tentar trazer a felicidade para toda a sociedade. O paraíso não é igual para todos."

Muitos hippies, talvez a maioria, vinham das classes média ou alta, e sua rebeilião era familiar, dirigida contra a vida cheia de regra dos seus pais, contra tudo aquilo que consideravam a hipocrisia dos seus costumes puritanos e as fachadas sociais que disfarçavam seu egoísmo, espírito de isolamento e falta de imaginação. Eles eram extremamente simpáticos com seu pacifismo, seu naturismo, seu vegetarianismo, a esforçada busca de uma vida espiritual que desse transcendência à sua rejeição de um mundo materialista e corroído por preconceitos classistas, sociais e sexuais do qual não queriam nem saber. Mas tudo aquilo era anárquico, espontâneo, sem centro nem direção, sequer idéias, porque os hippies – pelo menos os que eu conheci e observei de perto -, embora se identificassem com a poesia dos beatniks – Allen Ginsberg recitou seus poemas, cantou e dançou música indiana em plena Trafalgar Square diante de milhares de jovens -, na verdade liam bem pouco ou não liam nada. Sua filosofia não se baseava no pensamento e na razão, mas sim nos sentimentos: no feeling.

A literatura não é algo que nos faça felizes, mas ajuda-nos a defendermo-nos da infelicidade.

Só um idiota pode ser totalmente feliz.

Escreve-se para preencher vazios, para fazer separações contra a realidade, contra as circunstâncias.

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