sábado, 21 de janeiro de 2012

Honoré de Balzac

Honoré de Balzac (Tours, 20 de maio de 1799 — Paris, 18 de agosto de 1850) foi um prolífico escritor francês, notável por suas agudas observações psicológicas. É considerado o fundador do Realismo na literatura moderna.

Sua magnum opus, A Comédia Humana, consiste de 95 romances, novelas e contos, que procuram retratar todos os níveis da sociedade francesa da época, em particular a florescente burguesia após a queda de Napoleão Bonaparte em 1815. Entre seus romances mais famosos figuram A Mulher de Trinta Anos (1831-32), Eugènie Grandet (1833), O Pai Goriot (1834), O Lírio do Vale (1835), As Ilusões Perdidas (1839), A Prima Bette (1846) e O Primo Pons (1847). Desde Le Dernier Chouan (1829), que depois se transformaria em Les Chouans (1829, na tradução brasileira A Bretanha), Balzac denunciou ou abordou os problemas do dinheiro, da usura, da hipocrisia familiar, da constituição dos verdadeiros poderes na França liberal burguesa e, ainda que o meio operário não apareça diretamente em suas obras, discorreu sobre fenômenos sociais a partir da pintura dos ambientes rurais, como em Os Camponeses, de 1844.

Além de romances, escreveu também "estudos filosóficos" (como A Procura do Absoluto, 1834) e estudos analíticos (como a Fisiologia do Casamento, que causou escândalo ao ser publicado em 1829).Balzac tinha uma enorme capacidade de trabalho, usada sobretudo para cobrir as dívidas que acumulava. De certo modo, suas despesas foram a razão pela qual, desde 1862 até sua morte, se dedicou incansavelmente à literatura. Sua extensa obra influenciou nomes como Proust, Zola, Dickens, Dostoyevsky, Flaubert, Henry James, Machado de Assis, Castelo Branco e Ítalo Calvino, e é constantemente adaptada para o cinema. Participante da vida mundana parisiense, teve vários romances, entre eles um célebre caso amoroso, desde 1832, com a polonesa Ewelina Hańska, com quem veio a se casar pouco antes de morrer.

Estilo
A Comédie Humaine ficou inacabada à época de sua morte — Balzac tinha planos de incluir nesta coleção vários outros livros, a maioria dos quais ele não havia sequer iniciado. Viajava muito durante o processo dos livros, e as obras "completas" às vezes eram revisadas entre diferentes edições. Este estilo reflete a própria vida do autor, que sempre foi uma tentativa de estabilização através de suas ficções. "O homem que constantemente desaparece", escreveu V. S. Pritchett, "e que deveria ser perseguido da rua Cassini à … Versailles, Ville d'Avray, Itália, e Viena só poderia construir uma habitação fixa no seu trabalho."

Legado
Honoré de Balzac influenciou significativamente escritores de seu tempo e das próximas gerações. Muitos críticos das mais variadas nações atribuem seus grandes autores como seus Balzacs; Charles Dickens, por exemplo, já foi chamado de "o Balzac inglês" e de fato o autor francês teve certa influência nele. Certos críticos denominam Manuel Antônio de Almeida o "Balzac brasileiro", enquanto que o Frankfurter Allgemeine Zeitung já reservou tal título ao mais recente Jorge Amado.

Machado de Assis também sofreu forte influência de Balzac em seus primeiros escritos realistas. No entanto, ele rompe com a narrativa linear e principalmente com os narradores à modelo de Balzac, Zola e Flaubert, que desapareciam por detrás da objetividade narrativa, e assim escreveu seus grandes romances, como Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas, com narradores cínicos e que merecem desconfiabilidade, sem, absolutamente, desprezar o caráter social e pessimista que também se encontra em Balzac.De fato, muitos críticos já escreveram aproximações sobre ambos, entre elas uma observação das influências das mulheres balzaquianas nas mulheres de Machado, especialmente Capitu e a A Mulher de Trinta Anos.Dos realistas, contudo, Machado dizia: "Voltemos os olhos para a realidade, mas excluamos o realismo; assim não sacrificaremos a verdade estética." Quanto aos detalhes excessivos presentes em Balzac e em naturalistas como Eça de Queirós, criticou: "essa pintura, esse aroma de alcova, essa descrição minuciosa, quase técnica, das relações adúlteras, eis o mal."

Eça de Queiróz, por sua vez, admirava a Comédie tanto quanto Camilo Castelo Branco. Este escreveu um conjunto de oito narrativas a que deu o nome de Novelas do Minho (1875-1877), explicitamente influenciado em Balzac, enquanto que o primeiro escrevia Cenas da Vida Portuguesa, ciclo de romances destinados a retratar a sociedade portuguesa após o estabelecimento do liberalismo em Lisboa, Portugal, dos quais vieram à luz Os Maias e A Capital, à imagem das cenas sociais que o autor francês fazia de sua França e Paris.

Gustave Flaubert também foi substancialmente influenciado pela escrita de Balzac. Elogiando seu retrato da sociedade, enquanto atacava seu estilo de prosa, certa vez escreveu: "Que homem ele teria sido caso soubesse escrever!" Enquanto desdenhava o rótulo de "realista", Flaubert claramente se focava na atenção de Balzac aos detalhes e em suas descrições da vida "nua e crua" da burguesia. Tal influência se mostra na obra L'education sentimentale de Flaubert, que possui uma dívida com as Illusions Perdues. "Aquilo que Balzac começou", escreveu um crítico, "Flaubert ajudou a terminar".

De maneira semelhante, Marcel Proust também aprendeu com o exemplo realista, e fazia estudos cuidadosos de sua obra, embora tenha criticado o que veio chamar de "vulgaridade" de Balzac. No entanto, seu À la recherche du temps perdu utiliza um exemplo na ancestral história de Balzac chamada Une Heure de ma Vie (Uma Hora da Minha Vida, 1822), em que segue em detalhes reflexões pessoais profundas. Mais tarde, contudo, em sua maturidade, Proust chamou de "loucura" a moda contemporânea de comparar Balzac com Tolstói.

O romancista norte-americano Henry James, por sua vez, talvez tenha sido o mais afetado por Balzac que todos os outros aqui já citados; escreveu quatro ensaios derramando elogios sobre ele (em 1875, 1877, 1902 e 1913), e num desses escritos afirmava: "Grande como Balzac é, ele é todo de uma peça e permanece na perfeição." James se esforçava para manter as motivações psicológicas em detrimento de exibições históricas em seus novelas, e isso aprendeu com Balzac. Ambos autores utilizaram a forma do romance realista para sondar as maquinações da sociedade e da miríade dos motivos do comportamento humano.

A visão de Balzac de uma sociedade na qual o dinheiro, as classes e as ambições pessoais são os principais intervenientes foi endossada por críticos de ambas tendências de esquerda e direita política. O marxista Friedrich Engels escrevia: "Aprendi mais com Balzac do que com todos os outros profissionais, historiadores, economistas e estatísticos juntos." Recebeu elogios de críticos tão diversos como Walter Benjamin e Camille Paglia. Em 1970, Roland Barthes publicou S/Z, detalhada análise sobre a história Sarrasine e uma obra-chave na crítica literária estruturalista. Balzac também tem influenciado a cultura popular. Muitas de suas obras têm sido adaptadas para o cinema, como Cousin Bette de 1998, estrelando Jessica Lange. Ele também é incluído de maneira significativa no filme The 400 Blows (1959) de François Truffaut. Como roteirista, Truffaut creditava Balzac e Proust como os maiores escritores de toda a França.

Lista de obras
Tragédia em versos
Cromwell (1819)
Inconclusas por conta da morte
Le Corsaire (ópera)
Sténie
Falthurne
Corsino

Publicadas em pseudônimo
Como "Lord R'Hoone", em colaboração
L'Héritière de Birague (1822)
Jean-Louis (1822)
Como "Horace de Saint-Aubin"
Clotilde de Lusignan (1822)
Le Centenaire (1822)
Le Vicaire des Ardennes (1822)
La Dernière Fée (1823)
Annette et le Criminal (Argow le Pirate) (1824)
Wann-Chlore (1826)

Publicadas anonimamente
Du Droit d'aînesse (1824)
Histoire impartiale des Jésuites (1824)
Code des gens honnêtes (1826)

Contos
Contes drolatiques (1832–37)
La Grande Bretèche
Um Episódio de Terror

Títulos selecionados da La Comédie Humaine
Les Chouans (1829)
A Mulher de Trinta Anos (1829-1842)
Sarrasine (1830)
La Peau de chagrin (1831)
Le Chef-d'œuvre inconnu (1831)
Le Colonel Chabert (1832)
Le Curé de Tours (1832)
La Fille aux yeux d'or (1833)
Eugénie Grandet (1833)
Le Contrat de mariage (1835)
Le Père Goriot (1835)
Le Lys dans la vallée (1835)
La Rabouilleuse (1842)
Illusions perdues (I, 1837; II, 1839; III, 1843)
La Cousine Bette (1846)
Le Cousin Pons (1847)
Splendeurs et misères des courtisanes (1847)

Peças
L'École des ménages (1839)
Vautrin (1839)
Les Ressources de Quinola (1842)
Paméla Giraud (1842)
La Marâtre (1848)
Mercadet ou le faiseur (1848)

Citações
"A gratidão é uma dívida que os filhos nem sempre aceitam no inventário".

"O remorso é uma impotência. Ele voltará a cometer o mesmo pecado. Apenas o arrependimento é uma força que põe termo a tudo."

"Respeitamos o homem que se respeita."

"A constância é o fundo da virtude."

"Falar de amor é fazer amor."

"O matrimônio deve combater incessantemente o monstro que devora tudo: o hábito."

"É tão absurdo dizer que um homem não pode amar a mesma mulher toda a vida, quanto dizer que um violinista precisa de diversos violinos para tocar a mesma música."

"O café é a bebida que desliza para o estômago e põe tudo em movimento."

"Os costumes são a hipocrisia das nações."

"A alegria só pode brotar entre as pessoas que se sentem iguais."

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