segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Edukators - Os educadores


Muito antes dos suecos da banda The (Internacional) Noise Conspiracy cantarem que o capitalismo roubou sua virgindade (Capitalism Stole My Virginity), hippies dos anos 70 já lutavam contra o stablishment em ações pacíficas com a bela intenção de mudar o mundo. Mas esse mesmo planeta está cada vez mais dependente do capitalismo, das corporações e tudo isso contra os quais os revolucionários lutam há décadas.


Em uma Alemanha ainda sentindo as ressacas depois da queda do Muro de Berlim, surge Edukators, drama que mostra jovens perdidos tentando pegar um fôlego nesse mar capitalista, que teima em sufocar nossos ideais a cada braçada. Jan (Daniel Brühl) e Peter (Stipe Erceg) moram juntos e, secretamente, são os Edukators, dupla revolucionária que invade mansões vazias, mudam de lugar todos os móveis e deixam atrás misteriosos bilhetes, com mensagens como "seus dias de abundância estão contados". Jule (Julia Jentsch), namorada de Peter, encara privações financeiras desde que bateu seu carro no Mercedes de um ricaço, o empresário Hardenberg (Burghart Klaußner), e foi condenada a ressarci-lo pelo caríssimo conserto, o que ela considera uma tremenda injustiça. Afinal, terá de trabalhar durante sua vida inteira para pagar o prejuízo de € 100 mil enquanto que esse carro não faz a mínima diferença para o empresário.


Quando Peter viaja para Barcelona, Jan e Jule se aproximam e o rapaz se comove com o drama dela. Então, resolvem invadir a mansão de Hardenberg para lhe dar uma lição. Mas os dois acabam tendo problemas e devem recorrer à ajuda de Peter para seqüestrar o empresário. É quando eles começam a perceber que seus ideais, apesar de estarem corretos, não cabem mais no mundo de hoje. Especialmente depois de descobrirem que o empresário fora um militante como eles na década de 70. Eles ainda têm de lidar com um triângulo amoroso no grupo.

As semelhanças com o recente sucesso do cinema alemão Adeus, Lênin! são evidentes, primeiramente pela presença do ator Daniel Brühl, revelado no filme citado anteriormente. Além disso, os dois longas tratam do hiato em que os jovens se encontravam após o fim do regime comunista no país. Ao mesmo tempo em que Edukators procura uma solução para o capitalismo e as corporações, como as que usam mão-de-obra infantil para fabricar tênis que custam centenas de reais, soluções reais e pacíficas acabam não dando resultado. O filme mostra que as mudanças devem acontecer primeiro em nós mesmos para que, depois, possamos mudar algo lá fora.

Edukators não é uma apologia à revolução, muito menos ao fato de que ela não existe mais. O filme de Hans Weingartner - que também foi um revolucionário em sua juventude - mostra, por meio de um inteligente roteiro, que é melhor agirmos a simplesmente pensarmos na ação. Nem sempre a ação é bem sucedida, mas pelo menos aprendemos. Muito mais se ficarmos sentados no sofá pensando em como este mundo está errado, e não em como consertá-lo.

Crítica: Angélica Bito/Cineclick

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