Depois de uma estréia promissora em seu país de origem, o cineasta mexicano Alfonso Cuarón foi tentar a vida no cinema americano, onde fez bons filmes, entre eles A Princesinha e Grandes Esperanças. Após dez anos sem filmar em sua terra natal, Cuarón retornou ao México para realizar o inteligente e sensível E Sua Mãe Também, filme que estréia neste fim de semana nos cinemas brasileiros.
Sua Mãe Também é uma comédia erótico-dramática. Mostra dois amigos adolescentes - Julio (Gael García Bernal) e Tenoch (Diego Luna) - preparando-se para entrar num verão que promete ser dos mais enfadonhos. Suas namoradas foram viajar e ambos estão sozinhos, sem muito o que fazer. Avoados e sem nada na cabeça, Julio e Tenoch são uma espécie de versão mexicana de Beavis e Butthead.
Até que entra em cena a atraente Luísa (Maribel Verdú, de Sedução - Belle Époque), mulher mais velha, casada e européia, que imediatamente chama a atenção dos dois rapazes. Os três decidem ir à praia. Uma simples viagem de alguns dias que definitivamente vai mudar as histórias de suas vidas.
Se nos Estados Unidos este tipo de filme é chamado de "road-movie", talvez no México ele possa ser considerado uma "película-carretera". Nomenclaturas à parte, E Sua Mãe Também retrata várias viagens. Não apenas a física, em que um velho carro passeia descompromissadamente pela miséria e pela intolerância política mexicanas, mas também e principalmente pela psicológica.
Durante três dias, Julio e Tenoch viverão um rito de passagem da adolescência para a vida adulta. Mudarão os conceitos e as idéias pré-concebidas. Ambos aprenderão a perdoar. Luísa, por sua vez, tem um caminho diferente a empreender. Ela precisará romper as amarras de sua própria repressão para poder ingressar num outro estágio de existência.
O interessante de tudo é que na medida em que os personagens se aprofundam e aprendem a viver, o filme também vai se tornando mais sério. Ele começa quase em ritmo de pornochanchada brasileira dos anos 70. O que é coerente com o estilo de vida dos dois rapazes protagonistas. A mudança de paisagem acompanha a alteração do tom da narrativa. O interior do país, árido, combina com a rudeza das brigas que se sucederão. E quando o trio chega ao azul do mar e à amplidão da praia, é como se as relações humanas entre eles finalmente encontrassem luz própria.
Não por acaso, E Sua Mãe Também ganhou dois prêmios no Festival de Veneza: revelação para os dois atores e roteiro. O filme é a segunda maior bilheteria de um filme mexicano, levando mais de 3,5 milhões de pessoas aos cinemas e superando o badalado Amores Brutos (perdeu apenas para Sexo, Pudor & Lágrimas).
Crítica: Marcelo Hessel/Omelete
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