Poucos filmes tiveram uma importância tão significativa na história do cinema. Se fôssemos eleger os cinco mais importantes, sem sombra de dúvidas O Poderoso Chefão estaria entre eles. Lançado no início da década de 70, quase quarenta anos depois a saga da família Corleone continua não apenas com o status de um dos melhores filmes da história do cinema como também uma espécie de fenômeno cultural enraizado no cotidiano.
A produção dirigida por Francis Ford Coppola redefiniu a imagem do mafioso no cinema. O roteiro desenvolvido em conjunto com o autor do livro, Mário Puzo, prima por um sem número de diálogos que são repetidos até hoje em filmes e seriados. E o mais impressionante disso tudo é que basta uma única frase para entender qual é o filme de origem da referência.
As quase quatro décadas que separam o lançamento do filme dos dias atuais também não fizeram mal algum para a produção, pelo contrário. É intrigante perceber a atualidade de citações e situações envolvendo os meandros dos bastidores políticos e a maneira como um grupo de poderosos pode influenciar a sociedade sem que para isso precise sequer arranhar a sua imagem.
Obviamente, contemplar em apenas uma crítica todo o significado de uma produção que poderia render algumas teses é algo quase impossível. Porém, é válido analisar algumas das influências ou marcas que os Corleone deixaram na cultura cinematográfica e, por consequência, na cultura popular. Um dos maiores responsáveis por tudo esse sucesso é sem dúvida o seu diretor.
Contrariando o pensamentos dos estúdios da época, que consideravam o elenco despreparado para o filme e sequer cogitavam uma produção com mais de duas horas de duração, Coppola, à sua maneira, comprou uma briga que por pouco não lhe custou o afastamento das filmagens. Até mesmo um outro diretor já havia sido contratado para dar continuidade às filmagens. O que para os estúdios era para ser apenas mais um filme de bandidos, para Coppola tornou-se uma saga familiar.
A naturalidade com que tudo é apresentado é apenas um, entre tantos os fatores que chamam atenção. Basta apenas uma sequência - a de abertura, com Bonasera (Salvatore Corsitto) recitando o seu monólogo iniciado por um potente "Eu acredito na América", numa câmera que se abre à medida que o texto nos apresenta um retrato do que se espera de um personagem como Don Vitto Corleone (Marlon Brando) - para entender do que se trata a história em questão.
Por incrível que pareça, nomes como Marlon Brando, Al Pacino, James Caan, Robert Duvall e Diane Keaton reunidos em uma mesma obra não são o principal chamariz, o que seria mais evidente em um elenco tão grandioso como esse. Porém, não deixa de ser espantosa a atuação de Marlon Brando no papel do patriarca da família. Sua composição de personagem foge ao convencional e é difícil imaginar que o ator tinha apenas 47 anos quando interpretou Don Corleone. Seus gestos comedidos, a voz embargada, o olhar sereno e sensação de que aquele homem forte carrega um fardo enorme em seus ombros são elementos indescritíveis. Mas um olhar basta para entendê-los.
Além de personagens riquíssimos, interpretados por atores igualmente brilhantes, a sintonia de outros elementos compõe uma obra com diferenciais que atravessaram gerações. A fotografia do filme construída por Gordon Willis é outro aspecto que merece destaque. O tom alaranjado, conseguido graças a um filtro especial, não só cria uma saturação significativa na imagem como proporciona um contraste de cores único e um aspecto dourado nas imagens, fazendo com que luzes e brilhos reluzam como peças de ouro em meio à paisagem de época.
Além do contraste de cores na ausência de luz - escritório de Don Corleone - e no excesso de luz - sequência onde Michael e Kay fazem compras na cidade - as paisagens do interior da Sicília são igualmente exploradas de uma maneira soberba. Aliás, toda a construção de história e os eventos ocorridos na Itália são dignos de um outro filme em especial. Após Michael (Al Pacino) avistar pela primeira vez Appolonia (Simonetta Stefanelli) a maneira como a história é apresentada - praticamente sem diálogos e apenas com a belíssima composição de Nino Rota ao fundo - é de uma singeleza e de uma perfeição poucas vezes atingidas em alguma produção.
Nas palavras do diplomata norte-americano Henry Kissinger, Francis Ford Coppola "tocou a grandeza" quando apresentou ao mundo o seu poderoso chefão. Mais do que um simples filme, O Poderoso Chefão vale por centenas de outros filmes e, como diz uma chamada na capa do Box de Blu-ray, vale por um semestre inteiro na faculdade de cinema.
A trajetória dos Corleone seria completada dois anos depois, com a também genial segunda parte de O Poderoso Chefão, e com um terceiro episódio na década de 90. Ambas valiosíssimas para a compreensão da trilogia como uma única obra. Porém ainda que se completem, o grau de perfeição atingido no primeiro filme jamais chegou a ser alcançado novamente. Filme obrigatório e uma das maiores obras de arte que o cinema já produziu.
cara, não li este post do Poderoso Chefão, pois estou meio bêbado, mas sabe que curto suas escritas né? te sigo no twitter e vejo que tens escritos algo que precisamos. Então, estou trabalhando no meu primeiro livro, algo meio Bukowsniano, ou como "delírios de uma mente perdida". Só lamento por estar longe, mas acredito que seria interessante nosso encontro. Fique ná fé irmão e continue seu caminho árduo e escuro, belo como a vida do submundo. Na paz!
ResponderExcluirArthur Yuka
Cara, fico muito feliz com isso, nem sei o que te dizer pra demonstrar minha alegria em saber que de alguma forma eu participo do dia a dia das pessoas, muito obrigado. Abraço camarada
ResponderExcluirMuito bem escrito e sucinto... E é impossível falar de um grande filme e não deixar a desejar!!!
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