sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Clube da luta

Em um dos filmes mais investigativos da história do cinema, David Fincher propõe um desafio angustiante, assustador, violento, revoltante, mas, acima de tudo, realista. Colocando em pratos limpos toda a letargia e o medo de uma geração, Fincher procura lançar perguntas do começo ao fim da narrativa, contudo, nunca perde o foco e mantém a trama sob controle. Mas o professor não entrega as respostas de mão beijada, deixando bem claro o respeito que o diretor tem para com seu público, Fincher nunca idiotiza a platéia. É o espectador que tem que correr atrás do gabarito, e isso acaba se tornando um exercício fantástico e excitante.

A rigor, a obra do autor de Seven trabalha em cima de uma poderosa metáfora , mas sem nunca deixar de ser direto. Fight Club, apesar de fazer uso abundante da linguagem metalingüistica, é possível compreender com clareza os   questionamentos impostos pelo longa. 

Trata-se, obviamente, de um tema polêmico, discutível e que não pode e nem deve se calar. Aliás, a idéia de David Fincher é justamente essa, levar à cabo tudo aquilo que a sociedade sabe que existe, só que não quer enxergar.

Aqui o soco não é no estômago, é na cara (literalmente). Fincher adota, deste o começo, uma narrativa repleta de flashbacks, que acabam funcionando sempre como explicação da cena anterior. O roteiro de Jim Uhls, calcado na obra Chuck Palahnuik, esmiúça o seguinte: Jack (Norton), homem do tipo "certinho", está exausto dessa vida e resolve fazer parte de um clube privado ao conhecer o louco e audacioso Tyler Durden (Pitt). O Clube da Luta é restrito aos seus integrantes e é secreto. Dentre suas regras estão: Não falar nunca sobre o Clube da Luta e seguir à risca a regra número 1. Lá, eles pretendem descontar todas as suas fúrias e aprender a ser livres. Tyler prega a autodestruição para se atingir a liberdade. Tentando se afastar de sua vida certinha, Jack não sabe se está mesmo no caminho certo. Tyler é um líder que atrai cada vez mais seguidores e Jack teme que as coisas fujam do controle.

Após um segundo ato bombástico, Fincher não só mantém o espectador grudado na cadeira, como aumenta a dose de suspense e injeta milhares de idéias brilhantes. O filme mais ambicioso do cineasta autoral que é David Fincher, é uma poderosa arma contra o consumismo capitalista, o intelectual bunda-mole que ganha dinheiro fazendo o que não gosta e ainda abusa de poder, ao joven embalado de sonhos falíveis que luta apenas pelo que lhe interessa, enfim. Tudo isso é explicado de maneira brilhante por Fincher. Aliás, a direção é perfeita, é possível perceber a mão do diretor em todas as cenas, que ainda conta com uma direção de arte impecável de Chris Gorak.

Ao passo que a trama desenvolvia-se, Brad Pitt e Edward Norton realizavam ótimos trabalhos. O primeiro, perfeito para o papel, mostra a sandice do personagem de maneira convincente. Despido de pudor e sem maniqueísmo, Brad entrega um desempenho louvável e encara a proposta de Fincher de peito aberto. Norton, a voz da narração, demostra porque foi considerado uma das maiores revelações da década de 90. A femme fatale ficou por conta da talentosa Helena Bonhan Carter. Helena funciona como subtrama no início, mas aos poucos ganha personalidade própria e sua presença torna-se fundamental para o desfecho, que é excelente. Enfim, Clube da Luta é um filme que fala para o público. Mostra, antes de tudo, que o cinema sabe pensar quando quer. Fincher faz isso olhando na nossa cara.

Crítica: Tudo [é] crítica

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