Em um dos filmes mais investigativos da história do cinema, David Fincher propõe um desafio angustiante, assustador, violento, revoltante, mas, acima de tudo, realista. Colocando em pratos limpos toda a letargia e o medo de uma geração, Fincher procura lançar perguntas do começo ao fim da narrativa, contudo, nunca perde o foco e mantém a trama sob controle. Mas o professor não entrega as respostas de mão beijada, deixando bem claro o respeito que o diretor tem para com seu público, Fincher nunca idiotiza a platéia. É o espectador que tem que correr atrás do gabarito, e isso acaba se tornando um exercício fantástico e excitante.
A rigor, a obra do autor de Seven trabalha em cima de uma poderosa metáfora , mas sem nunca deixar de ser direto. Fight Club, apesar de fazer uso abundante da linguagem metalingüistica, é possível compreender com clareza os questionamentos impostos pelo longa.
Trata-se, obviamente, de um tema polêmico, discutível e que não pode e nem deve se calar. Aliás, a idéia de David Fincher é justamente essa, levar à cabo tudo aquilo que a sociedade sabe que existe, só que não quer enxergar.
Aqui o soco não é no estômago, é na cara (literalmente). Fincher adota, deste o começo, uma narrativa repleta de flashbacks, que acabam funcionando sempre como explicação da cena anterior. O roteiro de Jim Uhls, calcado na obra Chuck Palahnuik, esmiúça o seguinte: Jack (Norton), homem do tipo "certinho", está exausto dessa vida e resolve fazer parte de um clube privado ao conhecer o louco e audacioso Tyler Durden (Pitt). O Clube da Luta é restrito aos seus integrantes e é secreto. Dentre suas regras estão: Não falar nunca sobre o Clube da Luta e seguir à risca a regra número 1. Lá, eles pretendem descontar todas as suas fúrias e aprender a ser livres. Tyler prega a autodestruição para se atingir a liberdade. Tentando se afastar de sua vida certinha, Jack não sabe se está mesmo no caminho certo. Tyler é um líder que atrai cada vez mais seguidores e Jack teme que as coisas fujam do controle.
Após um segundo ato bombástico, Fincher não só mantém o espectador grudado na cadeira, como aumenta a dose de suspense e injeta milhares de idéias brilhantes. O filme mais ambicioso do cineasta autoral que é David Fincher, é uma poderosa arma contra o consumismo capitalista, o intelectual bunda-mole que ganha dinheiro fazendo o que não gosta e ainda abusa de poder, ao joven embalado de sonhos falíveis que luta apenas pelo que lhe interessa, enfim. Tudo isso é explicado de maneira brilhante por Fincher. Aliás, a direção é perfeita, é possível perceber a mão do diretor em todas as cenas, que ainda conta com uma direção de arte impecável de Chris Gorak.
Ao passo que a trama desenvolvia-se, Brad Pitt e Edward Norton realizavam ótimos trabalhos. O primeiro, perfeito para o papel, mostra a sandice do personagem de maneira convincente. Despido de pudor e sem maniqueísmo, Brad entrega um desempenho louvável e encara a proposta de Fincher de peito aberto. Norton, a voz da narração, demostra porque foi considerado uma das maiores revelações da década de 90. A femme fatale ficou por conta da talentosa Helena Bonhan Carter. Helena funciona como subtrama no início, mas aos poucos ganha personalidade própria e sua presença torna-se fundamental para o desfecho, que é excelente. Enfim, Clube da Luta é um filme que fala para o público. Mostra, antes de tudo, que o cinema sabe pensar quando quer. Fincher faz isso olhando na nossa cara.
Crítica: Tudo [é] crítica
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