Incrível como as surpresas aparecem do nada. Conheci Darren Aronofsky em O Lutador, de 2009. Um bom filme que realmente merecia seus créditos, e na época pensei que era o melhor que o diretor poderia fazer. Me enganei feio. Há uns dias vi o incrível Réquiem Para Um Sonho e me surpreendi ao ver que Aronofsky aparecia mais uma vez após tanto tempo num filme tão bom quanto o outro.
Agora vejo seu primeiro filme, Pi, e me surpreendo ainda mais. Não que tenha gostado deste tanto quanto Réquiem, mas é inegável a sensação de estar defronte a uma obra. E, ainda mais, Pi foi feito com um visual totalmente independente, sem qualquer gasto exorbitante.
Apenas com 60,000 dólares, o filme faturou 53 vezes mais só nos Estados Unidos. Para se ter uma ideia, a mãe do diretor que criou os figurinos e o espaço foi cedido a partir de um negócio da família Aronofsky.
Apenas com 60,000 dólares, o filme faturou 53 vezes mais só nos Estados Unidos. Para se ter uma ideia, a mãe do diretor que criou os figurinos e o espaço foi cedido a partir de um negócio da família Aronofsky.
Maximillian Cohen (Sean Gullette) é um gênio matemático antissocial que acredita que o nosso mundo é feito de padrões matemáticos e, graças a isso, sua maior ambição é achar um padrão na bolsa de valores. Quando Max começa, aos poucos, a adivinhar a queda da bolsa, ele se depara com um misterioso número de 216 dígitos. Perguntando o significado para seu mentor, Sol Roberson (Mark Margolis), ele recebe uma resposta vaga sobre um bug da internet. Mas ele vê o quão perto está de seu padrão com esse números quando representantes de Wall Street e rabinos da religião judaica o procuram para desvendar mistérios relacionados a seu trabalho.
Bom roteiro, Darren conseguiu relacionar a matemática com a religião e a economia de um modo surreal e inteligente, com uma lógica inegável. Vemos através de algumas cenas como o diretor é o mesmo que Réquiem Para Um Sonho: tanto os personagens deste quanto o protagonista de Pi utilizam drogas para poderem pensar claramente e nas duas obras vemos closes nos remédios para demonstrar que eles foram utilizados, e esses closes se repetem freneticamente ao decorrer da película.
A obsessão do personagem de Sean Gullette é outro atrativo em especial na obra, o quanto ele se treme a medida que as relações sociais dele aumentam, toda a mania de perseguição que ele sofre e por começar a misturar a realidade com o sonho. As atuação, principalmente Sean Gullette e Mark Margolis são bem convincentes, conseguem segurar o filme.
Vale a pena assistir Pi pois, indubitavelmente, foi o filme mais angustiante que eu já vi. Todos os enquadramentos da câmera, o cenário altamente claustrofóbico, o drama em que a personagem entra, a obsessão de seus delírios matemáticos, de poder colocar tudo do mundo num padrão que ele pode resolver facilmente. Nunca vi cena mais perturbadora que ele cutucando o cérebro com uma caneta. A filmagem em preto e branco só aumenta a tensão causada por esse filme que se abstém de explicações lógicas para dar lugar à própria lógica. Confuso, mas merece ser conferido.
Crítica: Gabriel Neves/Crítica Mecânica
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