Em A Fita Branca, o cineasta Michael Haneke volta a aproximar-se de filmes desafiadores de sua carreira, como Caché e A Professora de Piano, para contar uma parábola sobre a maldade humana.
O narrador da história, que se passa às vésperas da Primeira Guerra Mundial, é um professor de uma pequena aldeia no norte da Alemanha. Nesse local provinciano, de poucos moradores, que diversas tragédias se descortinam a partir do momento em que o médico local é vítima de um atentado que o leva a cair do cavalo. O acontecimento assusta os moradores de imediato, que passam a testemunhar estranhas e violentas situações no pequeno povoado.
Paralelamente, observamos em A Fita Branca como as crianças da aldeia sofrem, principalmente com o excesso de rigor na educação. Chegar mais tarde depois da escola pode ser motivo de açoitamento. É com brutalidade extrema que os adultos educam suas crianças e todas as tragédias do filme são consequência desses atos violentos. A fita branca do título remete ao símbolo utilizado pelo pastor local na educação de seus filhos: ela simboliza a inocência, a qual ele acredita estar sendo perdida por qualquer deslize natural de seus filhos. Inevitavelmente, as crianças nesta aldeia crescem com uma noção precisa do senso de crueldade. O único personagem que parece ter certo distanciamento mais crítico, digamos, da realidade toda é o professor e narrador, que vive sozinho, longe do pai. Coincidência? Haneke não quer apresentar respostas ou analisar a complicada essência humana: ele dá espaço para que o espectador pense nestas questões e por isso a perturbação.
Haneke desenvolve um drama de forma silenciosa, com fotografia em preto-e-branco. Sem grandes movimentações de câmera – aliás, a câmera está parada o tempo todo, contemplando a ação, em enquadramentos perfeitos -, firulas estéticas e numa montagem sóbria, A Fita Branca é desenvolvido sobre o roteiro e as atuações, especialmente do elenco infantil, dando a base perfeita para que o espectador se sinta no mínimo incomodado com a crueldade adulta que permeia todo o longa. É um filme forte, contundente e reflexivo. Premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2009, Haneke mostra mais uma vez que seu cinema não perde a força com o tempo, pelo contrário: o cineasta consegue provocar o espectador como poucos.
Crítica: Angélica Bito/Cineclick
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